Memória ó memória, sempre ela, tão importante na formação da nossa identidade, da nossa cultura, enfim, deveras importante.
E foi através dela, que lembrei-me ontem da "Malhação do Judas". Muita gente nova, não conhece a tradição, porque é feita apenas em pequenas cidades ou povoados. Não é alguém de nome Judas, que vai a academia malhar, não!.
Conciste no ato de malhar, bater ou queimar um grande boneco de pano recheado de palhas que representa a figura de Judas o apóstolo traidor de Jesus.
Esta prática, é ou era muito comum em cidades pequenas bastante católicas ou em lugarejos.
Geralmente o Judas é substituido por um outro personagem que se queira malhar ou chacotar.
Bem, quando mudei para o campus universitário, lá havia uma pequena comunidade com casas nas quais os funcionarios moravam com suas famílias e estes tinham o hábito que eu desconhecia, de malhar o Judas todas as madrugadas de sexta-feira da paixão para o sábado de Aleluia.
Fiquei eu deveras curiosa e ansiosa para conhecê-la,. Na realidade, era um grupo de jovens que saia após a meia noite com um imenso boneco e batiam nas portas das casas da comunidade.
Quando saíamos para ver quem seria, e como as casas tinham todas elas imensos jardins de inverno envidraçados, eles que estavam na rua viam quem vinha e quem estava dentro do jardim de inverno, não. Então eles jogavam o boneco contra os vidros causando imenso susto no morador da casa. E saiam dando gargalhadas do coitado que se assustara.
Todos moradores tomaram sustos na época. E sempre avisavam quando se aproximava a data, para não nos assustarmos.
Eu estava curiosíssima, esperando com afinco que fossem nos visitar com o tal dos Judas. Passaram se anos e nunca iam na nossa casa e eu decepcionada.
Chega o dia em que conversando com um dos organizadores da tal malhação de Judas, esse diz a meu marido: " Já desistimos de ir na casa de vocês levar o Judas, pois da última vez batemos tanto que acabamos acordando o vizinho defronte e vocês não deram sinal de vida."
Conclusão: Temos o sono tão pesado que nem Judas nos acorda. E eu sou frustrada até hoje porque nunca levei o susto, de ter o Judas jogado contra meu jardim de inverno.
Então, quando se aproxima esta época eu sempre lembro do episódio e imagino também a decepção deles ao colocarem quase abaixo a porta por várias vezes e não poderem ter dado o tradicional susto como de costume.
Já não moramos mais lá e todo aquele pessoal que se divertia malhando o Judas também não. Só restam as lembranças neles e a falta destas em nós!
Que bom se estas tradições saudáveis ainda existissem, mas enfim nada é eterno e tudo na vida sofre mudanças, inclusive as tradições.
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